Clubes brasileiros buscam fortalecimento com criação de nova liga de futebol
A lembrança vem à tona após o lançamento de uma liga endossada por 19 clubes brasileiros na terça-feira. Segundo Aidar, o Clube dos 13 não foi para frente por causa da vaidade dos dirigentes. “Muitos pensavam em seus clubes e não no coletivo do futebol. Aí o Clube dos 13 acabou sendo engolido pela CBF, na época do Ricardo Teixeira”, diz ao Estadão.
Aidar era presidente do São Paulo em 1987, na época da criação do Clube dos 13. Outros dirigentes que participaram das reuniões naquele período eram Vicente Matheus (Corinthians), Eurico Miranda (Vasco), Marcio Braga (Flamengo) e Paulo Odone (Grêmio). “O Marcio Braga e o Paulo Odone eram pessoas cultas, inteligentes, em quem se podia confiar plenamente”, conta.
O Clube dos 13 surgiu com a participação de São Paulo, Corinthians, Palmeiras, Santos, Flamengo, Vasco, Fluminense, Botafogo, Grêmio, Internacional, Atlético-MG, Cruzeiro e Bahia. A primeira reunião foi em 11 de julho de 1987, em um salão no estádio do Morumbi, em São Paulo. Mais adiante, o grupo foi aumentando com a entrada de outras agremiações. Mas, em fevereiro de 2011, por causa de disputas e discordâncias políticas, a entidade implodiu.
Olhando para trás, mas também mirando o futuro, Aidar faz recomendações aos dirigentes atuais para que a nova Liga dê certo. “É preciso fazer de forma profissional, com gestão própria, não vinculada a clube nenhum, com executivos com currículo excelente e regras próprias. O Clube dos 13 funcionou durante um tempo, com apoio de patrocinadores fortes, e foi um marco na história do futebol brasileiro”, afirma.
MUDANÇAS NO FUTEBOL BRASILEIRO – Muitos detalhes da nova liga de clubes brasileiros não foram esclarecidos ainda, mas para especialistas do mercado, essas transformações são bem-vindas. Até para que os clubes tenham mais independência em relação à Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e as federações estaduais.
“O Brasil é o único país da elite do futebol mundial onde temos uma situação completamente anômala: os clubes, que são a essência do futebol, não têm nenhum poder na organização do futebol nacional. São reféns das decisões das federações. Isso tem que mudar e podemos ter um divisor de águas neste sentido, com um movimento coordenado e coeso para a criação de uma liga e uma maior participação nas decisões da CBF”, afirma Eduardo Carlezzo, advogado especializado em direito desportivo.
Aidar concorda com o ponto de vista. O ex-dirigente acompanha o futebol agora apenas como torcedor e não está mais envolvido na política do São Paulo, mas ainda frequenta o clube para torcer. Ele espera que essa nova liga ajude a desenvolver mais o futebol brasileiro, mas faz uma ressalva: os clubes precisam ter autonomia em relação às federações.
“É uma tentativa interessante, eu torço para que dê certo. O Clube dos 13 ajudou a mudar o critério de receita com a televisão e a publicidade estática. Isso foi importante. Se essa liga for para frente, acho que será interessante. Mas acredito que os clubes precisarão ser transformados em empresas e não podem ser dependentes das federações”, diz.
Essa independência em relação às federações tem um limite, pois muitas das coisas que ocorrem no futebol só podem ser feitas através das organizações com chancela da Fifa, como arbitragem das partidas, registro de transferências, entre outras coisas. Mas é possível uma liga existir junto com as federações e ter um diálogo saudável, como ocorre em muitos países da Europa.
Segundo Pedro Daniel, diretor executivo da EY, o momento atual exige um debate sobre o futebol brasileiro, até porque a diferença com o mercado europeu aumenta a cada ano. “São vários pontos que precisam ser discutidos, como o calendário, horário dos jogos, internacionalização dos produtos”, comenta.
Ele lembra que o Brasil já teve uma oportunidade quando o Clube dos 13 organizou a Copa União, em 1987, e entende agora que os cartolas estão mais aptos a fazer essa transformação. “Pelo que vejo do perfil atual dos dirigentes, eles parecem mais maduros. O mercado em si se desenvolveu, o volume de receitas aumentou e não tem espaço para presidentes folclóricos. Não dá para fazer a gestão como se fazia antes”, explica.
O especialista reforça que o produto não é o clube, e sim o campeonato. E para isso entende que o caminho é seguir alguns pilares, como o clube se tornar empresa ou ter uma gestão mais profissional, o futebol brasileiro ter uma regulação mais forte, pois isso traz segurança para possíveis investidores, e centralizar os direitos.
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