China envia para Hong Kong general que comandou repressão em Xinjiang

A China mudou o comando da presença militar do país em Hong Kong nesta segunda-feira, dia 10. O general Peng Jingtang, que chefiou a força especial antiterrorismo em Xinjiang, província onde o regime liderado por Xi Jinping é acusado de promover um genocídio, foi o escolhido para o posto. Jingtang assume o lugar de Chen Daoxiang, general que comandou a repressão do ELP (Exército de Libertação Popular) aos protestos pró-democracia realizados por milhares de honcongueses em 2019.

A indicação foi lida por analistas locais como um demonstração do papel militar que Pequim deseja imprimir no território semiautônomo. Além da defesa nacional, o regime almeja cada vez mais asfixiar levantes em defesa da democracia, classificados pelo Partido Comunista como incitações ao terrorismo.

O general Jingtang também atuou como subchefe da Polícia Armada do Povo. Há três anos, o Reference News, braço da agência estatal de notícias “Xinhua”, informou que uma força antiterrorismo nomeada Comando Águia da Montanha havia sido criada na província, e Jingtang foi citado como o líder.

O anúncio vem ainda na esteira da Lei de Segurança Nacional, norma implementada por Pequim em Hong Kong em meados de 2020 e que, entre outras coisas, criminaliza atividades consideradas de subversão e terrorismo, além de incluir a criação de novas unidades de polícia.

O novo comandante disse que trabalharia para “assegurar a soberania nacional, a segurança e os interesses de desenvolvimento em Hong Kong” e posou para fotos com a chefe executiva do território, Carrie Lam.

Ao jornal “South China Morning Post” uma fonte ligada ao regime chinês que não quis se identificar disse que a nomeação de Jingtang é parte de uma reorganização de liderança para mitigar a instabilidade local com a proximidade do 20º Congresso do Partido Comunista, que deve alçar Xi a um terceiro mandato à frente da China, depois que o país aboliu os limites para reeleição, em 2018.

Pesa ainda o anseio de Pequim para manter a ordem diante das eleições para a chefia do Executivo de Hong Kong, em março.

O primeiro pleito no território após o avanço da repressão deu uma demonstração desfavorável para o regime comunista: a votação para o Conselho Legislativo, em dezembro, teve uma das maiores taxas de abstenção desde que Hong Kong deixou de ser uma colônia britânica, em 1997.

Em Xinjiang, onde Jingtang atuou, a China é criticada internacionalmente por manter os uigures, minoria étnica muçulmana, em enormes centros de detenção.

Em 2018, uma equipe da ONU recebeu denúncias de que ao menos 1 milhão deles e de outras minorias muçulmanas estavam detidas e disse ter provas factíveis disso. Outro estudo, de 2020, aponta a existência de ao menos 380 campos de detenção.

A violência na região foi citada pelos EUA como um dos fatores para o boicote diplomático aos Jogos de Inverno de Pequim, em fevereiro. Austrália, Reino Unido e Canadá também se juntaram à medida.

Alguns especialistas, por sua vez, apontam que o histórico do general em Xinjiang não é necessariamente o que mais pesa na escolha de seu nome, uma vez que Pequim já estabeleceu um escritório de segurança nacional em Hong Kong para aconselhar o governo local na manutenção da ordem pública e que ao Exército de Libertação do Povo restaria um papel secundário.

Segundo a Lei Básica, espécie de miniconstituição de Hong Kong, cabe a Pequim a defesa do território, enquanto o governo local é o responsável por manter a ordem. O documento diz que o Exército chinês não deve interferir nos assuntos locais, mas que a chefia administrativa pode pedir ajuda, se necessário. (Com agências internacionais).

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