‘Bolsonaro mostra uma face que não mostrou em 2018’
Qual é sua posição diante das ameaças de Bolsonaro à realização de eleições no Brasil?
O presidente Bolsonaro faz uma leitura totalmente equivocada da relação dele com a sociedade, na hora em que ele faz uma manifestação dessas, dizendo que vai trabalhar para não ter eleições se não mudar o sistema, que não é ele que define. Ele assusta, está amedrontando o eleitor, mostra uma face que ele não mostrou na campanha eleitoral em 2018. Na democracia, as pessoas querem ver o presidente dando exemplo. Isso afasta ele do eleitor. Bolsonaro disse que não vai respeitar o Congresso, a decisão do Congresso em relação a um sistema eleitoral que é admirado no mundo inteiro. Lamentável essa fala do presidente. Mas as instituições são sólidas, vamos, sim, ter eleições com o sistema de apuração que for definido pelo Congresso Nacional e coordenado pela Justiça Eleitoral, como está definido na Constituição.
Como o sr. acompanhou os últimos desdobramentos da questão militar, após as críticas do senador Omar Aziz, que é do seu partido, e a nota dos militares?
Tenho profundo respeito pelas nossas Forças Armadas. O senador Omar não agrediu as Forças Armadas. É que, no calor dos acontecimentos, sempre existem, às vezes, manifestações que são feitas sem maiores reflexões. Ele, na verdade, fez uma manifestação muito crítica a alguns militares que eu não conheço, mas que a CPI talvez tenha evidências de que são militares que foram responsáveis por malfeitos. Acho que gerou uma polêmica desnecessária, porque eu não vi nenhuma agressão às Forças Armadas – ao contrário, ele enalteceu as Forças.
Foi um episódio pontual ou o sr. vê crise entre militares e a classe política?
Como o presidente convidou muitos militares para o governo, existe um envolvimento maior dos militares que estão no governo com as posições do governo, e não com as posições do Estado. Os militares estão em operações de Estado, né? As coisas começaram a se misturar um pouco. É importante que todos tenham plena consciência de que, se teve algum malfeito cometido por um militar, ele vai ser punido como qualquer um. Se um integrante de um partido é punido porque cometeu um erro, isso não significa que o partido inteiro está sendo criminalizado. Com a leitura correta, a gente conclui que não tem crise nenhuma.
O sr. é crítico da proposta do distritão. Por quê? Há chance de esse novo modelo vigorar?
O modelo de distritão, na minha visão, acaba com a política, deixa o sistema muito vulnerável quanto à interferência do crime organizado, das milícias. Ele gera a possibilidade de um candidato procurar partido, por mais irrelevante que seja, fazendo qualquer negociação menor, conseguindo legenda e, sendo um dos mais votados, sendo um parlamentar, algo de muita relevância.
O sr. vai tentar botar em prática o que está dizendo, de apresentar candidatos?
Sim, estamos rumando com essa definição de dar prioridade nos grandes colégios eleitorais para candidaturas a governador do partido. A nossa ideia é ter candidatura a governador no Rio de Janeiro, em Minas Gerais, em São Paulo, no Paraná, os grandes colégios eleitorais. Mas não é aquela diretriz fechada. A política se impõe, sempre existem as exceções que têm que ser admitidas, mas a recomendação é de que, em especial nos grandes colégios eleitorais, tenhamos candidaturas a governador.
Definida a entrada do ex-governador Geraldo Alckmin no PSD?
Com a experiência que ele tem, antes de tornar pública qualquer decisão, não seria politicamente correto uma manifestação minha. O que eu tenho dito é que nossa diretriz é ter uma candidatura. Entendemos que, se Alckmin formalizar sua pretensão de ser candidato a governador, por todo histórico que ele tem conosco, tem tudo, todas as condições que já foram manifestadas a ele, primeiro para ratificar o convite fizemos para que ele se filie ao partido, segundo para que a gente possa trabalhar para que ele seja um bom governador, se vencer as eleições.
No plano nacional, tem a hipótese de uma candidatura presidencial do PSD?
Sim, vamos ter uma candidatura, tenho dito, não é segredo. A minha posição pessoal, ela é pessoal, isso não foi discutido no partido, é que o melhor perfil para que o partido possa abraçar é o do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. É evidente que ele saberá analisar esse convite. É uma pessoa que mostrou talento para política. Minha manifestação pessoal é de que ele pode, sim, ser um candidato do PSD à Presidência.
Há espaço para essa alternativa de centro?
Eu acho que teve um erro do governo Bolsonaro de não entender o jogo da política brasileira. Enquanto não tivermos consolidada a reforma aprovada em 2017, para reduzir o número de partidos políticos, não há presidente da República que consiga se eleger contando já desde o início com 300 deputados na sua base. O presidente Bolsonaro não entendeu que a governabilidade não significa fisiologismo. E a nossa convicção é de que nós não iríamos caminhar juntos em 2022. Vamos ter candidatura própria. Essa dificuldade do presidente de entender a importância da base de apoio levou o Brasil a começar a perceber que precisava, sim, ter uma proposta de centro. Eu discordo de que o País tem dificuldade de lançar um candidato de centro. O Fernando Henrique foi uma candidatura de centro. Lula só se elegeu presidente quando se aproximou do centro. E, nessa eleição, está ficando claro que nós temos hoje duas candidaturas à frente, mas que também têm um índice de rejeição, ambas, bastante alto. E existe o espaço, é lógico, para uma proposta de centro, uma proposta de pacificação. O País está entrando numa animosidade política crescente, que não é saudável. Então, cresce o número de pessoas que acham que, se tiver uma terceira via com essa proposta de pacificação, é o melhor para o País. Essa é a razão, de cada vez mais, essas propostas estarem ocupando. O PSD vai ter a sua proposta de centro. E nossa primeira prioridade é apostar em uma candidatura de Rodrigo Pacheco.
O sr. acha que o governo Bolsonaro chega até 31 de dezembro de 2022?
Olha, eu acho que chega. Nós estamos caminhando para o segundo semestre do penúltimo ano, não é? Um impeachment não pode ser banalizado, precisa de fato concreto porque estamos numa democracia. O voto precisa ser valorizado. E, nessa altura dos acontecimentos, eu não acredito que vá acontecer um impeachment. Eu acho que é um governo que vai até o fim. É um governo que tem seus erros. Eu acho que teve muita dificuldade de estruturar, de convidar pessoas, o presidente chegou sem nenhuma experiência administrativa, sem equipe. Alguns se saíram bem, outros se saíram mal, mas é um governo com muita dificuldade no campo da política, no campo da gestão da pandemia, que hoje no mundo é a principal preocupação de qualquer cidadão. Qualquer cidadão do planeta, se tem uma preocupação hoje, é covid, e o governo não soube transmitir esse sentimento num País que daqui a pouco chega a 600 mil mortes. A CPI traz um desgaste, é evidente que ainda não concluiu nada, mas a gente percebe que, se você quiser ser generoso com o governo, aquilo lá era uma bagunça. Uma bagunça em uma gestão de algo tão importante, de uma pandemia, já é extremamente reprovável.
O PSD fica no governo?
Não, nunca fomos governo. Têm pessoas do governo ligadas a nossos parlamentares, alguns são mais próximos, outros mais distantes, essa questão de cargos, de participação, de votação, ela é individual dos parlamentares, uma relação que eles têm com esse governo, que é de independência, permitindo a eles estar junto, votar a favor, votar contra, conforme a sua consciência. Essa é a contribuição que o partido deu para a governabilidade, ficando totalmente distante do governo.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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