Audiência entre Metrô e sindicato termina sem acordo

Audiência do Tribunal Regional do Trabalho (TRT-2), para discutir a paralisação de funcionários do Metrô de São Paulo, terminou sem acordo nesta quarta-feira, 19. A categoria está de braços cruzados por melhoria salarial, embora a gestão João Doria (PSDB) argumente ter feito proposta “muito acima do que é praticado no mercado de trabalho e previsto na legislação trabalhista”. Os metroviários decidirão em assembleia ainda nesta noite se irão manter a paralisação.

Com previsão inicial para durar 24 horas, a greve teve início à 0h e afetou o funcionamento de linhas cuja operação é feita pelo Estado: 1-Azul, 2-Verde, 3-Vermelha e 15-Prata. Em meio aos transtornos provocados pela greve, o TRT-2 convocou uma audiência de mediação entre as partes A discussão durou mais de uma hora, mas o sindicato e o Metrô não chegaram a um consenso.

O Tribunal também aceitou pedido liminar para limitar a greve. Segundo o TRT-2, há determinação para manter funcionamento de 80% do serviço do efetivo do Metrô nos horários de pico (entre 6h e 10h e entre 16h e 20h) e com 60% nos demais horários. “Em caso de descumprimento da liminar, que foi deferida pela juíza Maria Cristina Christianini Trentini, será aplicada multa diária de R$ 100 mil, cuja destinação será oportunamente decidida”, afirma, em nota.

O Sindicato dos Metroviários alega que os salários estão congelados há dois anos, sem reajuste pela inflação e com perda real calculada em cerca de 10%. Também afirmam não receber a Participação nos Resultados (PR) referentes aos anos de 2019 e 2020. Já a Secretaria dos Transportes Metropolitanos, do governo estadual, diz que o reajuste proposto de 2,61%, além de benefícios, representa “excelentes condições”, especialmente durante a pandemia de covid-19.

Segundo a categoria, havia expectativa de receber nova proposta do governo, caso em que levaria a possibilidade de acordo para votação em assembleia. Sem acordo, no entanto, a previsão deve durar pelas 24 horas previstas inicialmente.

A decisão pela greve havia sido tomada na noite de terça-feira, 18, após nenhum representante da administração pública comparecer a outra audiência no TRT, segundo relata a entidade. Para dirigentes do sindicato, a atitude seria “um desrespeito à categoria”.

“Não estamos pedindo aumento, estamos pedindo o reajuste inflacionário (do salário). É claro que, se vier alguma proposta de negociação, estamos dispostos a conversar e não paralisar o metrô. Mas isso está nas mãos do governo e do Metrô”, afirmou mais cedo Camila Lisboa, uma das coordenadoras do sindicato, antes da audiência de mediação.

Afetados pela greve, usuários do Metrô reclamaram de maior demora para chegar ao destino e de aglomerações provocadas em meio à pandemia. Segundo afirmam, houve sobrecarga para a CPTM – já que os trens acabaram recebendo parte da demanda de passageiros. Por causa da paralisação, o rodízio de veículos também foi suspenso pela Prefeitura.

Um dos dirigentes do sindicato, Altino Prazeres chegou a afirmar que a categoria estaria disposta a voltar ao trabalho, se a tarifa deixasse de ser cobrada dos usuários. “Se deixarem a catraca aberta, voltamos a trabalhar na mesma hora. Sempre dizem que quando entramos de greve, isso atrapalha o transporte público. Mas se o governo topar, a gente topa também.”

Prazeres disse, ainda, que a proposta apresentada à categoria até então só incluía o reajuste com base no IPC de maio de 2019 a abril de 2020 (2,61%), sem incluir o de 2020 para 2021 (7,79%). Ao mesmo tempo, ele alega que a empresa tentou reduzir os adicionais noturno e de férias, assim como a gratificação por tempo de serviço.

Antes da audiência, a Secretaria dos Transportes Metropolitanos chegou a divulgar nota oficial em que atribui a falta de acordo à “intransigência dos dirigentes sindicais” e diz ter oferecido “excelentes condições de salários e benefícios”. As medidas, além do reajuste, incluem abono de férias de 60%, adicional de hora extra de 100%, 35% para trabalho noturno de 35% e manutenção de todos os empregos.

“Durante toda a pandemia, o metroviário teve garantida a manutenção de seus empregos e altos benefícios, apesar dos prejuízos registrados pelo Metrô de R$ 1,7 bilhão no último ano e de mais de R$ 360 milhões no primeiro trimestre de 2021”, diz o comunicado.

“O Sindicato dos Metroviários acredita viver em outro mundo, com uma realidade distinta daquela que vive o trabalhador brasileiro, para reivindicar novos aumentos salariais e de benefícios, ameaçando punir a população com a paralisação do transporte público, deixando milhares de pessoas que cuidam de serviços essenciais, como saúde e segurança, sem transporte”, afirma o comunicado.

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