Algoz da Argentina, Nonato quer terceira medalha no futebol de 5 em Tóquio

Em 2010, quando descobriu a modalidade do Futebol de 5, disputada por jogadores cegos, Raimundo Nonato chegou em casa dizendo, em tom de brincadeira, que disputaria os Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro em 2016. Como resposta, ouviu dos parentes que sonhar não custava nada. Hoje, com 33 anos, Nonato, como é mais conhecido, é o pivô da seleção brasileira paralímpica e está no Japão com a missão de defender o ouro que ele ajudou a conquistar em 2016.

Com cinco gols marcados na Paralimpíada de Tóquio, Nonato ajudou o Brasil a passar com tranquilidade na primeira fase da competição de futebol de 5 da competição. Na vitória sobre a China por 3 a 0, na estreia dos jogos, o pivô marcou dois gols. No dia seguinte, ele voltou a balançar as redes na goleada de 4 a 0 sobre o Japão e, contra a França, o artilheiro fez outra boa exibição e marcou duas vezes na vitória por 4 a 0 em cima dos europeus.

Natural de Orocó, interior de Pernambuco, Nonato nasceu sem visão por conta de uma doença congênita chamada retinose. Como sempre gostou de futebol, tinha o costume de jogar com os amigos nos campos de terra das zonas rurais de da cidade. O barulho da bola rolando no chão de areia ajudava o pernambucano a se localizar no jogo.

Nonato até conhecia o futebol de 5 por acompanhar os jogos paralímpicos e parapan-americanos, mas não praticava. Em 2010, com 23 anos, ele foi apresentado à modalidade e à bola com guizo por meio de um amigo. Contudo, o convite para conhecer o esporte veio junto com o de se mudar para Petrolina (cidade localizada a mais de 700 km de Recife) para poder praticar e se aperfeiçoar na modalidade.

Para Nonato, o envolvimento com o esporte e a mudança de cidade foram fundamentais para ele desenvolver maior autonomia. “Eu tive que vir morar em Petrolina e, com isso, precisei aprender a andar sozinho na rua, a me virar em casa em relação a fazer a minha comida. Essa autonomia na vida foi o futebol de 5 que me proporcionou”, declarou o jogador em entrevista concedida ao canal do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) no YouTube.

Em Petrolina, Nonato ajudou a organizar uma associação na cidade para inscrever o time em que jogava para disputar as competições regionais de futebol de 5. Depois de ter sido destaque no Campeonato do Nordeste de 2011, conseguiu ser convocado pela primeira vez para a Seleção Brasileira Paralímpica. Em 2012, já era um dos integrantes da equipe que conquistou o ouro na Paralimpíada de Londres.

Vestindo o número 8 da amarelinha, o artilheiro coleciona títulos coletivos e individuais. Além de ser bicampeão paralímpico, Nonato também foi bicampeão mundial, bicampeão parapan-americano e bicampeão da Copa América, e foi eleito melhor jogador do Brasil de Futebol de 5 em 2019, no mesmo ano em que o País venceu a Copa América, em casa, batendo a Argentina na final por 2 a 0, com 2 gols do pernambucano – fez 9 no torneio em 6 partidas. “Fazer gol é bom. Mas fazer na Argentina, e em casa, é muito melhor”, afirmou o artilheiro.

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