Adoção compartilhada: quando não é destino, é profecia divina

Os dicionários definem de maneira simples o que é família. Contudo, a definição, para muitos, pode ir além de ‘grupo de pessoas que vive sob o mesmo teto’, ‘relação de parentesco, linhagem, geração’. Família pode começar com dois, virar quatro, depois seis, oito e cada vez maior, com mais amor, mais acolhimento, mais vida.

O sonho de ter filhos e com eles deixar o lar cheio de amor, nem sempre é algo simples, fácil e natural. Enquanto casais sentem as dificuldades em conseguirem ser pais, crianças por diversas situações são destituídas do poder familiar, ficam no acolhimento institucional e passam a ter o mesmo sonho: ter uma família para chamar de sua, ter uma família que seja o alicerce, ter uma família que respeite seus direitos, ter uma família que transborde amor. Adotar tem mudado essas histórias e formado novas famílias.

O ato de adotar pode ser uma gestação que dura muito mais do que nove meses. O ato de adotar é o processo de gerar um filho no coração e não no ventre. O ato de adotar é traçar um perfil para o filho, mas isso pode mudar durante o ‘período de gestação’. O ato de adotar é dizer sim ao chamado de pai e mãe.

As crianças que são recebidas no acolhimento institucional carregam histórias e sonhos. Os laços sanguíneos que podem permanecer quando elas são acolhidas por suas novas famílias é o vínculos com os irmãos, ou seja, a adoção compartilhada. A Comarca de Toledo também tem atuado para que a adoção compartilhada seja uma realidade e que as famílias que adotam crianças que possuem irmãos possam se visitar, possam manter o contato, possam se tornar ‘grandes famílias’.

O SIM PARA A ADOÇÃO – Uma história de guarda compartilhada repleta de fé, surpresas e amor envolve duas famílias: o casal Maria* e João* e o casal Isabel* e Pedro*. Os pequenos irmãos Gabriel* e Miguel* foram adotados e uniram essas famílias (nomes fictícios para preservar as fontes).

Maria conta que durante 15 anos, ela e o marido tentaram realizar o sonho de serem chamados de pai e mãe. “Procuramos diversos médicos, realizamos muitos exames, tivemos um aborto e muito sofrimento. Entregamos tudo nas mãos de Deus e ficamos no aguardo. Tivemos a confirmação em nossos corações de que seríamos pais de adoção. Em 2019, iniciamos o processo, nosso perfil inicial era uma menina de 0 a 3 anos, mas nosso filho era outro, nosso Gabriel veio com seis anos, cheio de vida, cheio de energia, cheio de amor”.

O encontro com o pequeno fez com o casal tivesse a certeza de que ele era ‘o filho do coração’. O casal mudou o perfil apresentado no início do processo e recebeu de braços abertos o pequeno. Gabriel, foi acolhido em seu novo lar e com a pureza de uma criança, em suas orações ele pedia para que seu irmão, o Miguel que ficou no acolhimento institucional, tivesse o mesmo destino que ele: fosse adotado.

Aproximadamente, um mês depois o sonho aconteceu e Miguel foi adotado. No ato das adoções as famílias foram comunicadas sobre a adoção compartilhada e aceitaram de ‘coração aberto’ fazer com que os pequenos pudessem manter contato e o vínculo de irmãos.

A conexão entre as famílias aconteceu de maneira natural. Mal sabiam eles que seus destinos já estavam conectados antes mesmo das adoções. “Meu marido e eu estávamos em um dos encontro do Gaat quando encontramos o Pedro, meu colega de trabalho. Fiquei aflita, pois nosso processo de adoção seguia em sigilo. Fui conversar com ele e durante a conversa, Pedro revelou que também não havia contado nada para ninguém sobre o desejo de adotar. Neste dia, começamos a falar sobre o assunto, nossos medos, nossos sonhos. O tempo foi passando, o Gabriel chegou em nossa vida e a primeira surpresa veio quando somos avisados de que Pedro e Isabel tinham adotado o Miguel”.

ADOÇÃO COMPARTILHADA – As famílias que juntas, no início somavam quatro, já eram seis. Os irmãos continuaram a manter contato, a fortalecer o vínculo, a unir as duas famílias. A adoção mostrou para os casais que o perfil inicial pode mudar o processo, que adotar uma criança mais velha pode ser o destino deles, que manter a adoção compartilhada é algo que enaltece o amor.

“Nosso perfil inicial era de uma criança de 0 a 2 anos de idade; depois passou para 5 anos e no final de até 9 anos. Ou seja, mudamos totalmente nosso perfil. Isso aconteceu após conhecermos a realidade das crianças acolhidas, através do Gaat. Tivemos a oportunidade de realizar a visita monitorada, onde pudemos levar para passar um fim de semana em nossa casa duas crianças: um menino de 5 anos e uma menina de 13 anos. Essa visita foi o divisor de águas em nosso processo, pois o desejo daquelas crianças de ter uma família era tão grande que passamos a entender que a importância da adoção, é acima de tudo, encontrar uma boa família para elas”, relata Isabel.

QUATRO, SEIS, OITO VIDAS – A relação entre os irmão é mantida e as famílias estão cada vez mais unidas. Os meninos passaram a desejar que as famílias aumentassem, como uma profecia ardente nos corações dele. “Já sentiu seu bebê mexer hoje, mamãe?”, perguntava o pequeno Gabriel. Maria conta que o filho passou a falar isso com frequência, dizer que queria mais um irmão e que isso iria acontecer.

Maria conta que sempre explicou para o filho que se uma gestação acontecesse seria no tempo de Deus. “Um dia a Isabel me ligou aos prantos. Era uma mistura de alegria e medo. Ela descobriu que estava grávida, mas era uma gestação. Fiquei emocionada e passei a rezar por ela. Todos os dias eu colocava a mão no meu ventre consagrava a gestação dela para Nossa Senhora, que cuidasse dela e dessa gestação”.

Isabel conta que foi uma surpresa descobrir a gravidez. “Após 8 meses da nossa família ter recebido o Miguel, fomos surpreendidos com a gravidez, que já não fazia mais parte de nossos planos, pois estávamos felizes e realizados como pais e que, segundo alguns especialistas, ‘seria impossível acontecer pelo método natural’, ou seja, nosso caso seria uma fertilização in vitro. Foi uma surpresa muito grande e logo acompanhada de algumas complicações, uma mistura de felicidade e muitos medos, foi quando resolvi me abrir para a mãe do irmão do meu filho. Contei a ela e pedi para que me coloca-se em oração, oramos juntas pela minha gestação”.

O milagre veio em dose dupla. “Após uma semana, Maria veio me contar que também estava gestando, mais uma vez, foi uma mistura de sentimentos e emoções. Sentimos a presença de Deus em tudo isso, pois logo as complicações da minha gestação passaram”.

Tudo começou com os quatros (os dois casais), com a adoção, eles viraram seis e assim que os bebês nasceram, a família passará a ser oito. As mamães estão à espera de meninos; o mundo das duas famílias vai continuar azul. É tanta felicidade que segundo eles “não cabe no peito”. Essa grande família afirma que tudo foi obra divina, que os filhos – Gabriel e Miguel – tinham o destino de permanecerem unidos e de encontrarem o verdadeiro lar e a graça de gestar um bebê no ventre não é diferente de gerar um filho no coração.

Da Redação

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