Acidentes do Trabalho: pacientes passam por reabilitação prolongada para retomar atividades

Com mais de um caso de acidente por minuto, dedos são os membros mais atingidos e representam um quarto das lesões

O Brasil registrou, em 2022, mais de um acidente de trabalho por minuto. São 70 acidentes por hora e 612,9 mil casos no total. Isso representa quase quatro vezes a quantidade de acidentes de trânsito com motocicletas registrados no mesmo período. Os dados são do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho, que compila informações do Ministério Público do Trabalho, Organização Internacional do Trabalho e outros órgãos federais. O problema se torna uma questão de saúde pública, colocando os profissionais da saúde diante da tarefa crucial de restabelecer a funcionalidade dos pacientes.  

Os acidentes laborais acontecem durante a execução de atividades a serviço de uma empresa e resultam em lesões corporais ou perturbações funcionais. Os dedos são a parte do corpo mais atingida, correspondendo a cerca de um quarto das lesões, muitas delas causadas por máquinas e equipamentos. Segundo a médica Giana Giostri, como as mãos são órgãos funcionais, também estão mais suscetíveis a traumas, como fraturas e ferimentos. “A mão possui uma estrutura específica e capacidade única, o que se traduz em complexidade na tarefa de restaurar plenamente sua função após uma lesão”, destaca a ortopedista e cirurgiã da mão dos hospitais Universitário Cajuru e São Marcelino Champagnat, em Curitiba (PR).

Quedas, lacerações, queimaduras, choques elétricos em geral causados por uso incorreto de máquinas e equipamentos de proteção são os principais acidentes de trabalho que dão entrada nos prontos-socorros em todo o Brasil. No Hospital Universitário Cajuru, que é 100% SUS e referência em trauma, muitos desses pacientes são atendidos pela equipe de ortopedia, traumatologia e cirurgia da mão. Em 2022, foram atendidos pela equipe 30,8 mil pacientes e, nos primeiros sete meses de 2023, já somam mais de 7,6 mil. “Lesões na mão requerem cirurgias demoradas e complexas, seguidas de repouso, imobilização temporária para promover cicatrização e período mais longo para restaurar a funcionalidade”, explica Giana Giostri.

Sentindo na pele

Acidentes de trabalho e lesões por esforço repetitivo geram custos para o Instituto Nacional do Seguro Social. O INSS é responsável por administrar a prestação de benefícios como auxílio-doença acidentário, auxílio-acidente, aposentadoria por invalidez e pensão por morte. Os custos são altos e, apenas em 2021, foram pagos R$ 14,5 bilhões em benefícios de natureza acidentária. No entanto, esse número, contabilizado pelo INSS, não inclui trabalhadores informais, como é o caso do construtor Sandro José dos Santos Pinto, de 48 anos, que fraturou as mãos e o fêmur durante o seu trabalho que realiza de forma autônoma. “Sofri uma queda do andaime e, enquanto passo por essa recuperação lenta, estou sem trabalhar”, conta Sandro.

Além do alto risco de morte, os acidentes de trabalho podem causar lesões que deixam sequelas incapacitantes e definitivas. Para restabelecer a funcionalidade do paciente, a imobilização temporária do membro afetado é importante para a cicatrização das lesões, seguida pelo longo processo de reabilitação que devolve movimentos, força e sensibilidade nas mãos.  “Mesmo uma lesão aparentemente pequena pode acarretar, no mínimo, duas semanas de afastamento do ambiente de trabalho. Em alguns casos, infelizmente, o paciente pode levar mais de um ano para se recuperar completamente, o que pode exigir que a pessoa passe por readaptação de atividades ou fique distante do mercado de trabalho”, detalha a ortopedista e cirurgiã da mão.

Com uma reabilitação longa pela frente, Sandro encara esse processo com paciência, mas está muito ansioso para retornar ao trabalho. Ele conta com o apoio da família, o suporte dos profissionais de saúde e as sessões de fisioterapia para superar os obstáculos e voltar à vida que tinha antes do acidente. “É uma jornada delicada, mas mantenho a esperança de uma recuperação completa, para que eu possa retomar meu trabalho com segurança”, afirma o paciente. Para evitar acidentes no ambiente de trabalho, Giana ressalta a importância de treinamento qualificado para manuseio de máquinas e uso de equipamentos de proteção. “A prevenção de acidentes é baseada na constante atenção durante as atividades no trabalho. Sendo a mão um órgão efetor de nosso cérebro, o cuidado com as mãos é essencial para preservar habilidades e garantir a continuidade de nossas funções”, conclui.

Da Central Press

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